OPUS CW XVI

Desde o início a pintura de Claudia Watkins compreende a ação direta e energética sobre o vazio da tela ou qualquer superfície. Projeta-se sobre o suporte decidida, como se fosse arrancar dele o que já está em seu imaginário. Múltipla na utilização de materiais pictóricos extrai do pigmento natural e industrial, ou da água e da resina acrílica, camadas que se reverberam em diversos planos, ora em linguagens abstratas, ora delineando sutilmente figurações simbólicas. Para ela o quadro é como um território poético a ser explorado, que deixa a descoberto sua própria extensão, como se expandisse sempre para fora, à procura de associações e narrativas abertas a diversas leituras. No entanto, captura e revela a constelação de imagens que compreende seu cotidiano e seu entorno, quase se desfazendo em pinceladas gestuais descontínuas, onde cor e forma interagem à procura do equilíbrio. A liquidez da tinta se dilui, ora em grossas camadas em primeiro plano, ora quase em aguadas que deixam a descoberto as colorações do fundo, o inconsciente, onde tem origem parte de sua investigação. Espontânea e decidida a escrita da pintura estabelece lugares inusitados em busca da reconfiguração de uma realidade não estática, onde o movimento é quase um improviso, quase improvável e sem resolução definitiva.

A figura, delineada e simbólica, vem surgindo nas fases mais recentes de Cláudia, onde adquirem fisionomias etéreas em uma temática, mas não se apegam à resoluções demasiadamente explícitas, como na sequência de pinturas intitulada por ela de madeixas, quando a água, os cabelos,o corpo e a natureza formam quase que uma só paisagem. Esta mimetização da figura parece simular a intenção consciente de estabelecer a narrativa de personagens que desejam falar de dentro para fora, mas sem a pretensão de ocupar um papel de protagonismo único. São emergências muitas vezes involuntárias, mas reais, submersas na semântica exposta pela abstração informal predominante.

Nesta exposição literalmente aflora a materialização da imagem objetiva e central onde a abstração cede seu espaço à figuração, mas esta inversão não exaure sua presença intensa e afirmativa. O lirismo impressionista se configura como se a poesia estabelecesse um laço romântico entre o passado e o presente, a permanência da linguagem já consagrada e sua atualidade efêmera. Vasos de flores, pura e simplesmente, mas estas flores parecem imaginárias sem abdicarem de sua presença cotidiana. Predominam na pintura os relevos da espátula, ferramenta que a artista sempre manuseou com destreza e a planura expressiva da tinta, que imprime profundidade e luminosidade. A linha do horizonte, eventualmente presente em algumas de suas paisagens, torna-se concreta e instaura o plano de apoio para a explosão de cores sobre o fundo semi- infinito, com ranhuras e diversas camadas de cor, como paredes envelhecidas, o passado, que se reflete ainda sobre a mesa. No presente, flor e fundo se interpenetram de forma compacta ou translúcida, com suas constelações florais intensas, híbridas, inquietas, sonoras, sensitivas, vivas.

Xico Chaves

Artista visual, poeta transmídia e produtor artístico

Exposição "Arqueologia da Lucidez"

O ponto de partida é o simbólico. Pode ser uma espiral, um signo, uma cor. Mas é sempre referencial subjetivo da artista que dá o tom da partitura plástica, a atmosfera da viagem não planejada.

É arte-cobaia que se torna fonte de saber após a experiência vivida. Neste fazer crucial, exaustivo pela plenitude que requer, o tempo se torna agente fundamental da obra. A verdade de cada gesto determina os valores plásticos que permanecerão. Essa mesma verdade traz o tempo de eliminar, esconder, superpor (negar também é ato de criação)

As pinturas de Claudia Watkins são campos de mineração, de garimpo nas "camadas geológicas" da alma. Camadas que reinventam e questionam o nosso planeta - e onde é possivel pesquisar os fósseis do passado e do futuro.

Mario Margutti

Crítico de Arte

Exposição "Arqueologia da Abstração"

Claudia Watkins utiliza pigmentos naturais, tinta acrílica e pigmentos industriais sobre tela em médios e grandes formatos.

Seu trabalho, referenciado basicamente em liguagem gestual, informal e abstrata integra o conjunto de elementos signográficos em densidade de texturas e formas espontâneas.

Xico Chaves

Artista visual, poeta transmídia e produtor artístico

Exposição "Modulos XVIII"

Em constante pesquisa de materiais, a artista explora na natureza, descobrindo seus infinitos recursos para traze-los à tela. Grãos e pedras moídos se misturam a pigmentos naturais. Folhas e pequenos animais se revelam, como sutis registros fósseis, em texturas densas que remetem à pedras de uma caverna.

Não são bisões, mamutes e renas da pintura rupestre de Altamira e Lascaux, mas ao olharmos suas obras é inevitável uma percepção atávica daquele passado tão remoto. A relação que Claudia estabelece com a naturaza, traz a pureza da relação mágica que o homem primitivo mantinha com seu universo. Esses homens não estavam decorando cavernas. Esses espaços eram de dificil acesso e bastante escuros. Representar os seres daquele habitat era muito mais um ritual animista de controle da realidade que os cercava.

Claudia Watkins tem a sofisticação técnica e intelectual do Séc. XX, mas ao criar procura despojar-se dos paradigmas de sua época e reencontrar-se com uma ancestralidade perdida.
Arte e magia para aprender e apreender a natureza.

Janda Gitirana Praia

Historiadora, jornalista e curadora de arte.

Rio de janeiro - RJ

Exposição "o outro lado do muro"

Claudia Watkins inventa um muro de tempos genéricos, que nos faz viajar para frente e para trás em uma história imaginária, que parece oscilar entre a aurora da humanidade e o presente inconciliável da urbe contemporânea. um muro vago, impreciso, histórico, pré-histórico, urbano, grafitado, degradado.

Luiz Sérgio de Oliveira

Janeiro de 2000

Luiz Sérgio de Oliveira é artista, Mestre em Arte pela Universidade de Nova York,
Professor e Chefe do Departamento de Arte da Universidade Federal Fluminense